sábado, 10 de abril de 2010

Santa Beatriz da Silva

Santa Beatriz da Silva, entre onze irmãos, era filha de Rui Gomes da Silva e Isabel de Meneses. Das nobres familias de Portugal donde nasceu em Campo Maior, estava destinada a servir na corte. Por isso desde pequena foi educada e preparada para dama da sua parente a infanta Isabel de Portugal que casou em 1447 com Dom João II de Castela. Assim foi Beatriz para Espanha com ‘muito pouca idade’ como dizem os seus primeiros biógrafos.
Era uma corte nada sossegada, naqueles tempos.
Pela sua beleza e elegância, Beatriz começou logo a brilhar com luz própria.
E dizem os cronistas: ‘Era esta donzela a mulher mais bela que havia em Espanha…’
Tirso de Molina, na sua comedia Dona Beatriz, põe em boca do rei: ‘Mulher tão bela, só a merece Deus’…
Mas, na verdade, a Beatriz não lhe fazia nenhuma graça todo aquele glamur que se criava á sua volta. Alem de ferir o seu pudor, provocava sem querer, as invejas e ciúmes das rivais.
A própria rainha que a tinha como confidente preferida, chegou ao ponto de cegar-se de ciúmes. E um dia decidiu fazê-la desaparecer para sempre. Fechou-a num baú onde nem se podia mexer e o oxigénio consumir-se-ia rapidamente.
Mas a ausência de Beatriz não passava desapercebida. Ao terceiro dia, Dom João de Meneses, desconfiado, atreveu-se a perguntar à rainha pela sua sobrinha. Esta, imediatamente o conduziu onde ela pensava apresentar-lhe um cadáver. Mas encontrou-a viva e mais bela do que nunca.
Que teria acontecido?
Na sua angústia de morte, Beatriz tinha invocado a Mãe do Céu e Ela não demorou em consolá-la também com uma aparição maravilhosa, onde lhe pedia que fundasse uma Ordem que desse glória a Deus pelo mistério da sua Imaculada Conceição. O hábito seria como o que levava Nossa Senhora: túnica branca com escapulário, e manto azul.

Em Toledo
Tudo tinha mudado decididamente na sua vida.
Já era Dama da Rainha do Céu e era preciso mudar de Palácio.
Beatriz sai da corte e vai viver para um tranquilo Mosteiro de Toledo.
Como se lembraria ela daqueles versos do seu contemporâneo, Frei Luís de Leão:
Que descansada vida
a de quem foge do mundano ruído
e segue a escondida
senda por donde têm ido
os poucos ‘sábios’
que o mundo tem tido!
E durante mais de vinte anos aí viveu como monja, mas sem o ser, preparando-se ela e a um grupinho de candidatas, para a fundação que Nossa Senhora lhe tinha pedido.

Dificuldades e obstáculos
Não era fácil e era preciso esperar o momento oportuno. Espanha passava por tempos difíceis. Por outro lado, os Teólogos estavam divididos entre ‘maculistas’ e ‘imaculistas’. E o projecto de Beatriz tinha muito de aventura: estabelecer na Igreja uma Instituição Monástica e precisamente em honra do mistério da Imaculada Conceição, significava dar por inteiramente segura e definitivamente triunfante, uma doutrina teológica ainda muito descutida. Era mesmo um desafio à Teologia embora reinasse um fervor popular muito ‘imaculista’.
Além disso, recordemos que as Ordens femininas só surgiam a partir das masculinas. Como é que uma moça jovem se atrevia a meter-se nisso, numa época em que a mulher ocupava o posto que todos sabemos?
Mas Beatriz, estava possuída pelo Espírito Santo e a Obra não era dela, mas de Maria.
A Rainha Isabel ‘a Católica’ conhecia a Beatriz desde pequena. Sua mãe arrependida, tinha obtido, sem dificuldade, o perdão de Beatriz, e visitava-a muitas vezes com a sua filha pequena.
E quando foi coroada como Rainha, começou uma nova era em Espanha.
Beatriz tinha nela uma amiga que lhe apreciava mais que pelo seu parentesco, pela sua santidade.

Um desafío à Teologia

E quando chegou a hora, a Rainha ofereceu-lhe os ‘Palácios de Galiana’, em Toledo, com a capela de ‘Santa Fé’ adjunta, para iniciar o seu Projecto.
Foi assim que em 1484 ali se trasladou Beatriz com doce companheiras. Em 1489, com ajuda da Rainha também, conseguiu de Roma a aprovação definitiva, com a Bula Inter Universa de Inocêncio VIII.
Assim, “O que a Teologia ‘imaculista’ defendia nas aulas e nos púlpitos, o Espírito converteu-o, através de Beatriz, em Projeto de Vida para a nova família monástica, que encontra a sua razão de ser na Igreja, na contemplação do mistério da Imaculada Conceição e no empenho por imitar as suas virtudes”.
“Na qual, por dever, não menos que por significado de Hábito e Regra, fosse a Santíssima Conceição de Maria honrada, afirmada e exaltada com constantes louvores. Desta maneira, não poucos séculos antes da promulgação do Dogma, e enquanto ferviam as discussões teológicas, a Imaculada Conceição manifestava-se com força viva na história da Salvação e na vida da Igreja, suscitando uma Ordem contemplativa que se inspirava no níveo fulgor da ‘Tota Pulchra’ e recebia dela energias para uma mais generosa consagração a Cristo, no quotidiano esforço por não se apartar em nada da doce soberania do Seu Amor”. Paulo VI

O milagre da Bula
Com esta Bula aconteceram duas coisas: uma foi que no dia 30 de Abril de 1489 apareceu na portaria do Mosteiro um cavaleiro para dar a notícia a Santa Beatriz de que o Papa acabava de conceder-lhe a aprovação daquilo que ela tinha pedido. Foi um jovem que lhe deu a notícia e desapareceu. Ela ficou feliz e anotou a data. Mas pelo sucesso, ela sempre ficou convencida que podia ser o anjo Rafael, o mensageiro de Deus a quem tinha muita devoção.
Uns dias mais tarde apareceu na portaria do Mosteiro outro jovem desconhecido que desapareceu rapidadmente como o primeiro, dando-lhe a notícia: O barco que trazia a Bula tinha naufragado e com ele tudo e todos.
Beatriz sofreu muito com esta notícia. Mas em vez de desesperar, intensificou a sua oração e a sua Fé. E aconteceu que, dez dias mais tarde, teve que abrir um baú para procurar uma coisa. E logo ao de cima encontrou um desconhecido pergaminho escrito em latim. Não podia acreditar naquilo que via e imediatamente o enviou a um doutor frade do Convento ao lado para que o analisasse. Qual a surpresa ao descobrirem que se tratava da Bula de aprovação que ela tinha pedido e que tinha tido a noticia de ter naufragado. Beatriz comprovou a data da Bula e viu que o dia coincidia precisamente com o dia em que ela tinha recebido a notícia da sua redação pelo desconhecido mensageiro em 30 de Abril de 1489. Foi tal a felicidade de todos por este misterioso achado, que toda a cidade de Toledo que já conhecia e amava Beatriz, se uniu para celebrar tal acontecimento como um sucesso milagroso. E nesse dia fez-se uma enorme procissão desde a Catedral ao Mosteiro, com a Bula em bandeja de prata e ninguém trabalhou como se fosse domingo.

A Estrela de Maria
E consumida de zelo e amor por Maria Imaculada morreu em Toledo em 1492.

Quando, na sua agonia lhe levantaram o véu que cobriu o seu rosto nos últimos 30 anos, para ser ungida a fronte com o Óleo da Santa Unção, foi tal o resplendor do seu rosto que iluminou toda a cela, qual outro Moisés quando se encontrava com o Senhor. Ao mesmo tempo apareceu na sua testa uma estrela brilhante que se foi apagando conforme ia deixando este mundo. A marca dessa estrela ainda hoje se pode apreciar no seu crânio. É por isso que sempre aparece na iconografia, com uma estrela que a distingue.
E assim exprime um Hino Litúrgico:
‘Quando juntou a morte
amada com Amante,
o Amor fez-se luz no seu semblante’.

A sua fama de Santidade era já um fenômeno em vida, começando a receber culto popular, imediatamente. Conforme as leis atuais foi confirmado pela Igreja em 1926 sendo Beatificada por Aprovação de Culto imemorial e canonizada em 1976 pelo Papa Paulo VI.

‘A nobre Beatriz da Silva, levanta-se como insigne exemplo de piedade e ilustre testemunho da mais elevada humanidade, não só para as suas filhas, mas também para todo o povo de Deus.
Mais ainda, para todos os que com mente sincera buscam a sabedoria e apreciam o valor da sincera virtude...’ Bula de Canonização.

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